estatistica

domingo, dezembro 04, 2016

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“A  JANELA”
 
            Para Guilhemina aquela janela era mais do que um componente da casa, dali se via uma pequena e estreita rua, ladeada por velhos casarões e uns botequins sujos e mal conservados.
            O que apaixonava a mulher eram os freqüentadores da rua. As mais diversas e estranhas criaturas passavam ali em direção ao prédio da Prefeitura da cidade. 
            Através da janela conhecera seu falecido marido, que na mocidade, andava por lá diariamente a caminho do trabalho.
            Da janela fiscalizara os filhos brincando na rua e por ela conhecera Sebastião, uma rápida paixão platônica, que acalentou seus sonhos amorosos da juventude. Um segredo que ela guardava  escondido dentro do coração.
            Agora, com setenta anos de idade, todas as tardes reclina-se no gasto parapeito e discretamente projeta sua cabeça ,com alvos cabelos brancos, pela abertura da janela.
            Quando isso acontece, os velhos olhos azuis de Guilhermina,  retrocedem ao passado. Os grandes e modernos carros se modificam, com as suas cores ficando escuras e por fim pretas.  Os formatos retrocedem para os doces anos de 1952, quando a anciã tinha 18 anos de idade.
            A rua fica brilhante, o céu mais azul e os casarões novamente novos .
            Vê novamente o jovem rapaz, que passava por ali todos os dias, lhe lançar rápidos e amorosos olhares. Sente o rubor nas faces avermelhadas e  cálido calor no coração.
            Num instante seus filhos voltam a brincar na rua, no meio de um sol de verão, um deles volta para casa  e a seus braços, chorando com o joelho machucado.
            Cenas de féretros e casamentos se desenrolam. Chuva e sol.  As roupas mudam magicamente no corpo das pessoas. A carroça trazendo o leite e o pão traz novamente seu barulho alegre de vida.
            O tempo deixa de existir para a anciã, fatos importantes  de  sua vida, são  jogados à sua retina sem ordem, como um filme mal emendado.
            Uma dor profunda provocada pela saudade, pelo remorso, pelo desespero e pelo amor sacode seu velho corpo e uma lágrima triste e solitária escorre de seus olhos opacos.
            O sol já se põe por sobre os casarões e a penumbra do fim de tarde cai sobre o cenário mágico.
            As pessoas se desvanecem, os veículos adquirem seu formato real, a velha rua volta a exibir seu aspecto decadente.
            Guilhermina enxuga uma lágrima brilhante e fecha a janela....

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