Existe uma região no Estado de São Paulo, que é uma grande produtora de porcos, Ali eles são cuidados, tratados e depois viram lingüiça.
Um produtor do setor, Sebastião, tinha um belo e cuidado sítio , onde criava porcos de raça. Os seus vizinhos falavam, que os suínos eram tão bonitos e bem dispostos, que pareciam até que pensavam.
Não, não riam, não estou dizendo besteira. Diziam que eles pensavam mesmo e muito direitinho....
Não acreditam? Pois, eu vou lhes contar a estória de Haroldo, um bacorinho que viveu no sítio de Sebastião.
Haroldo vivia num belo mangueiro espaçoso, onde passava sua vida infantil brincando com seus irmãos.
Por sobre o mangueiro, era constante ouvir-se o trovejar dos aviões comerciais indo em direção ao sul do País e aos países irmãos do Mercosul, Quando passava um bólide aéreo Haroldo ficava olhando para ele fascinado. Na sua cabeça palpitava o desejo de voar e essa vontade era tanta, que até lhe doía a alma.
Sebastião, homem atualizado com o mundo dos negócios, leu nos jornais, que era ótimo exportar porcos através do Mercosul, que os suínos brasileiros tinham lá um bom preço.
Não esperou muito. Pegou o telefone e após diversas ligações para São Paulo, Rio Grande do Sul e outras localidades, tratou com um importador estrangeiro, a venda inicial de trinta porcos para o Paraguai.
Os bichinhos não poderiam ser velhos, mas também não muito novos, vamos assim dizer... adolescentes Não muito pesados, uma vez que iriam ser transportados de avião.
Acordo fechado, Sebastião determinou que os empregados do sítio separassem os trinta porquinhos, em seguida lhes dessem um bom banho, para que a viajem ao exterior fosse feita da forma mais bonita e limpa possível.
Haroldo foi um dos escolhidos, para ser comido no Paraguai. Ele não sabia...só tomou conhecimento da viagem quando o colocaram juntamente com outros em um velho caminhão transportador de porcos, aqueles de dois andares.
O velho caminhão após levar três horas para rodar setenta quilômetros e depois de duas trocas de pneus, chegou ao Aeroporto onde seriam embarcados.
Haroldo, ali estando, esqueceu-se de tudo. O local era o paraíso dos porcos fãs de aviões. Havia de tudo, aviões a hélice, a jato...Uma profusão de cores bonitas e ronco de motores. Que espetáculo pensava...
O caminhão de transportes depois de diversas manobras , estacionou nas proximidades de um grande avião. Grande, mas nem tanto, vamos dizer de tamanho conveniente. Tratava-se de um DC3, que serviu para transporte de tropas na segunda guerra mundial. Não era tão velho, afinal l944 não estava muito longe.
A aeronave havia pertencido à Força Aérea do Paraguai, que o desativou, para substituí-lo por um modelo mais novo. Com isso, o DC3 foi vendido à iniciativa privada, que logo lhe deu uma mão de tinta colocando-o para trabalhar com toda a segurança.
Como o avião estava com seus motores ruins, o comandante, que tomava uma caninha deitado debaixo do aparelho, determinou que se fizesse uma pequena cerca de madeira no meio da aeronave e na parte de trás soltassem os porcos. Não poderia guardá-los em engradados separados, pois com o peso extra dos mesmos, o avião não levantaria vôo e ele não estava disposto a ir ao Paraguai rodando pelas estradas.
Assim foi feito. Haroldo e seus parentes, em fila e ordeiramente adentraram à aeronave acomodando-se cada um no seu canto. Nosso heróico porco estava emocionado, fuçava todos os recantos, cheirava o ar cheio de vapores de gasolina, que vazava de uma mangueira do motor do avião, ouvia o troar dos motores a jato. Um verdadeiro paraíso, sua emoção entretanto, só se completaria quando estivesse no ar, pendurado entre as nuvens.
Após uma longa espera, tempo de reabastecer o avião com gasolina e o piloto com caninha, a poderosa aeronave fez roncar seus motores.
Taxiando pela pista, alçou vôo hesitantemente pelo céu azul.
Quando o DC3 passou voando a três mil metros de altura sobre a região onde habitara, Haroldo emocionado, olhou através de uma pequena fresca existente na fuselagem do aparelho e viu lá embaixo, umas construções que lhe pareceram os mangueiros onde fora criado. Chamando outros porcos, apontou-lhes com o focinho as terras abaixo dizendo ser o sítio de Sebastião. Os porquinhos emocionados com a viagem e pensando ser aquela sua terra natal começaram a dançar e a bater com as patas no piso do avião. Como os arrebites da aeronave já estavam velhos e carcomidos, uma chapa de alumínio se soltou e metade da vara de porcos despencou pelo espaço, com eles, Haroldo.
Por coincidência, naquele momento passava por debaixo do DC3, em baixa altitude, um avião a jato, que estava fazendo um vôo de treinamento com um piloto recém graduado.
O porquinho herói, depois de cair livremente por mais de mil metros, delirando de felicidade e alegria, pensando que estava voando, passou pela frente de uma das turbinas do jato e foi sugado por ela.
O piloto do Boeing sentiu que alguma coisa atingira o avião. Esticando o pescoço, viu quando Haroldo era sugado pela turbina, que momentos depois cuspiria pelo outro lado: cinco quilos de lingüiça bem pesada, já fritas e restos de osso, sangue e pele do azarado porquinho.
O comandante do jato, enjoado com o espetáculo grotesco, vomitou sobre o painel de instrumentos. O co-piloto diante de tanta sujeira, voltou sua cabeça para trás vomitando no colo do engenheiro de vôo, que acabou se engasgando com o suco que tomava.
O avião só não caiu, porque o comandante se recuperou a tempo de impedir a tragédia.
No DC3, sem que seu piloto notasse, os porcos estavam sendo semeados pelo espaço afora.
O Boeing, a pedido da tripulação, fez um pouso forçado em um aeródromo próximo.
Uma comissão especial formada rapidamente, pela companhia e encarregada da apuração dos fatos, examinando a turbina do avião, nada encontrou, a não ser uns poucos pêlos e um cheiro característico de lombo frito.
O comandante ouvido na ocasião, falava de um porco voador que havia virado lingüiça em pleno ar. Foi dado como doido varrido e internado no Hospício Estadual , comentaram na época que dificilmente se recuperaria.
O Boeing precisou ficar uma semana em terra, para limpeza e desinfecção da cabine de comando.
Embora vítima de uma tragédia, Haroldo, agora verdadeiramente um espírito de porco, estava feliz, pois fora o único suíno a voar, fazer salto em queda livre sem pára-quedas e virar lingüiça a um só tempo.
estatistica
quarta-feira, outubro 11, 2006
HISTORIAS DA VIDA - O PORCO VOADOR
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